sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Mais Quatro Motivos para ver "Até o Fim"


Por Antônio Hohlfeldt 
Jornal do Comércio

Entre os melhores do ano

Num dos primeiros momentos de Até o fim, que Zé Adão Barbosa dirige a partir do texto de João Carlos Castanha, o ator, que interpreta seu próprio texto, como um doente, ao lado da atriz Rose Canal, que vive sua enfermeira, reclama da crítica. Diz ele que o crítico gosta, mas sempre tem algo a restringir no trabalho. Depois, radicaliza e afirma que o artista acaba se sentindo uma m...

Pois vou assumir esta queixa de Castanha. Primeiro, dizer que o dramaturgo Castanha surpreende, emociona e convence. Seu texto, em qualquer momento e contexto (sem trocadilhos), é sempre equilibrado, inteligente e consegue aquilo que é o mais difícil numa obra de arte: a partir de uma hipotética experiência pessoal, universalizá-la e torná-la compreensível por tantos quantos com ela tenham uma relação. É o que acontece com Até o fim... Por isso, vou ser aquele desmancha prazeres, mas vou registrar: do ponto de vista da dramaturgia, a peça deveria ter se encerrado naquela extraordinária sequência em que o personagem se encontra no fundo do mar, a perseguir peixes e tartarugas. No máximo, na cena seguinte, quando relembra a referência, já atribuída a tantos artistas que, quando se nasce, já se começa a morrer. E o personagem diz: mais um dia de vida, mais um dia perto da morte, mais um, mais um... e a luz se apaga. Dramaturgicamente, ali era o final.

Mas se o dramaturgo João Carlos Castanha assim fizesse, evidentemente, não seria mais o João Carlos Castanha que conhecemos e acompanhamos ao longo de anos. Daí que o espetáculo tem sua própria lógica a prolongar-se um pouco mais, tornando-se um pouco monótono e tragicômico, folhetinesco. Castanha precisava encerrar seu espetáculo em cena, fazendo aquilo que mais o notabilizou na ribalta: interpretando parodisticamente um grande artista, a quem encarna. Sim, este é um espetáculo de João Carlos Castanha, e por isso, acertadamente, o diretor Zé Adão Barbosa manteve todo o texto e o finaliza com aquela sequência. Não havia como ser diferente.

Até o fim... é um excelente trabalho que, certamente, mistura (auto) biografia e ficção, memória e depoimento: Castanha extravasa sua paixão pelo cinema (é admirável seu conhecimento quanto à sétima arte) e, auxiliado (ou não) por seu amigo e diretor, evidencia equilíbrio em cenas que se destacam pela corretíssima  citação musical ou cinematográfica. Não se trata de alguma referência erudita, mas sim, uma experiência que retorna e se torna presentificada na cena, numa releitura que a rememora e a atualiza. Daí que ele escapa ao emocionalismo folhetinesco (salvo ao final, como registrei), e consegue equilibrar, magistralmente, o dramático e o cômico graças, sobretudo, a esta criativa solução de contrapor ao doente terminal, amargo, mas irônico (no sentido freudiano, conforme “O chiste e sua relação com o inconsciente” - 1905), quando o pai da psicanálise chama a atenção para o funcionamento da anedota chistosa, realizada a partir de um sujeito contra um outro, desde que em presença de um terceiro, o espectador, que personifica este terceiro elemento. Costuma-se entender que o humor, em seu sentido mais refinado, ocorre quando um sujeito é capaz de se rir dele mesmo. Estas são as duas operações que Castanha-dramaturgo realiza com altíssima competência e excelente resultado. Para não se sentir diminuído, o personagem ridiculariza a enfermeira. Gradualmente, contudo, ela o conquista por sua disponibilidade e sua humildade. O doente reconhece, enfim, sua dependência afetiva em relação a ela, o que se traduz na passagem da denominação “colona” para “companheira”, com que a trata, a partir, mais ou menos, da metade da peça. Mas ela também aprende com ele, e com ele se identifica, vencendo seus preconceitos.

Se João Carlos-ator se dá muito bem enquanto intérprete dramático, Rose Canal igualmente esmerou-se na figura da enfermeira solitária e trazida à vida pelas provocações, às vezes dolorosas, do doente. De tudo, temos um espetáculo envolvente, de certo modo inesquecível. É muito bom saber-se que o teatro ainda é capaz de tocar e dar recados, em meio a Facebooks e Twitters... Um dos melhores textos do ano para um dos melhores espetáculos da temporada.




Por Zé Adão Barbosa

Em três décadas de carreira dirigi toda a espécie de espetáculos: Nomes como Lorca, Shakespeare, Nelson Rodrigues, Wedekind, Brecht, Gogol, Chico Buarque, Vinícius de Morais, Tchekov. Mas também Happenings deliciosos e espetáculos performáticos com a saudosa Cia das ìndias, ballets, shows de música, desfile de modas, eventos, shows de transformistas nas madrugadas de Porto Alegre, juro que nunca me achei um grande diretor mas gosto da "função". De todos, tive muitos resultados fantásticos, engrenagens perfeitas: elenco talentoso e disciplinado, produção competente. Mas, também, resultados não tão bons, técnicos sem talento, elenco de egos inflados e disciplina zero, produtores ruins e mal-intencionados.
ATÉ O FIM foi um mar de rosas. João Carlos Castanha, artista raro, amigo pessoal de 35 anos, com uma humildade e uma entrega de encher o coração. Rose Canal como sempre disponível, apaixonada, com uma disciplina que ela sabe que eu gosto., João Pedro João Pedro Seibel Wapler, pela parceria incial, Daniel Jainechine, e seus vídeos geniais que completam o espetáculo, Ricardo Vivian, talentoso, atencioso e bem-humorado, Caio Prates, amigo de longa data, se esmerando pra conseguir operar minhas trilhas esquisitas, Letícia Vieira, com seu apoio externo, uma das melhores produtoras com quem já trabalhei, Mauricio Casiraghi com seu apoio técnico que nos salva, Rodrigo Souto Lopes e Marco Alexandre Fronckowiak que se jogaram com uma paixão e uma alegria de encher os olhos, Lauro Ramalho, amigo de fé na divulgação, Alisson Fernandes de Aguiar, Gisa Fenner e Andrea Ludwig Cocolichio nas fotos, Perseu Pereira, viajando lindamente nas artes gráficas, Cris Neützling, sempre presente e animado para fazer apenas uma entrada em cena, Iuri Wander, sempre do meu lado, satisfazendo minhas vontades e, às vezes, meus caprichos. Ca Ferraz, Cesinha, Paulinho, Débora Plocharski Borges, Dani Mazzilli, Joice Rossato e tantos outros que, de alguma forma, se fizeram presentes.
Queria dirigir sempre assim: com harmonia, disciplina. Sem egos latejantes, sem falta de respeito, de disciplina e de afeto.




Por Vini Beccon

Castanha, fomos ontem assistir tua peça: perfeita, O drama pungente da finitude, dos meandros que tecem nossos conceitos de viver e não viver,a fome de viver de Bowie ou nossa que escapa mesmo nos pequenos diálogos nem tão insignificantes assim.

Parabéns! abraços.











Por Larissa Sanguiné

Tenho que escrever sobre a experiência que tive ao assistir "Até o Fim", fui embora muito tocada, ri, chorei, sorri, lembrei, pensei com o trabalho autoral do João Carlos Castanha, direção do Zé Adão Barbosa e que conta com uma linda parceria de cena da Rose Canal. intenso, cheio de contestações e apontamentos, cheio de humor e poesia.
sem nenhum "é, masssss...", o trabalho é o que é porque os artistas são o que são. estes são cheios de vontades e talentos que me emocionaram demais.
só tenho a agradecer.
fica em temporada mais um final de semana, que não foi ver se faça este favor: VAI!!!!









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